12 de outubro de 2008

Afogado em informações

Em vez de se deixar levar pela enxurrada de notícias que inundam o seu dia-a-dia, aprenda a filtrar o que você lê e ouve para se manter à tona e ficar a salvo da ansiedade. Acredite: às vezes menos pode ser mais

No começo dos anos 1990 o jornalista americano David Shenk foi trabalhar em Washington e decidiu assinar vários boletins de notícias pela internet. O que deveria ser apenas uma boa ferramenta de trabalho virou um tormento. "Fiquei tão animado com a idéia de poder acessar uma porção de dados sem me levantar da cadeira que quase enlouqueci", contou à SAÚDE!. "E depois descobri que muita, muita gente vivia o mesmo drama."

A história de Shenk, relatada no livro Data Smog: Surviving the Information Glut, por enquanto sem tradução no Brasil, é um retrato do mundo moderno onde o acesso fácil a dados de toda ordem pode trazer dor de cabeça, em vez de alívio, para quem tem paixão pelo conhecimento. O problema é que muitas vezes, mesmo sabendo muito sobre (quase) tudo, queremos ir além. "Estamos vivendo no pico da onda de informação, que começou com o lançamento da internet. Só que a nossa máquina, que é o cérebro, é obrigada a processar tudo o que chega", diz Jou El Jia, presidente da Associação de Medicina Tradicional Chinesa do Brasil, que chama a atenção de seus pacientes para esse risco desde os tempos em que a tal onda de informação ainda não passava de marola.

Digerir, organizar e gerenciar tantos dados gera um misto de ansiedade e angústia. "Os excessos nos oprimem e nem sempre conseguimos discernir o que pode ser útil do que só serve para nos enlouquecer", opina Larry Rosen, professor da Universidade do Estado da Califórnia e autor de um livro sobre o assunto, também inédito por aqui, intitulado Technostress: Coping with Technology at Work, at Home, at Play (Editora John Wiley & Sons).

Para Jou El Jia, a primeira coisa que pensamos é que não vamos dar conta de tudo o que lemos ou assistimos. "Fica mesmo difícil priorizar o que realmente nos interessa e descartar o que é irrelevante", reconhece. Então, a avalanche leva a uma hiperexcitação do córtex cerebral e à liberação de hormônios do estresse, como a noradrenalina e as catecolaminas. "Essas substâncias aumentam a produção de radicais livres, ligados ao envelhecimento. Ou seja, as conseqüências são também fisiológicas", alerta. Outro efeito é a perda de memória de curta duração, como aponta um estudo realizado no final do ano passado pela Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos.

Ora, tecnologia é ruim? Em príncipio não. "A tecnologia nos permite fazer mais. O problema é que rapidamente caímos no 'muito mais' isso nos angustia", diz Kimberly Young, psicóloga da Escola de Administração da Universidade St. Bonventure e diretora executiva do Centro para o Tratamento do Vício Online. Para Larry Rosen, o segredo descobrir aquilo que você quer e o que de fato precisa. "Chamo isso de o paradoxo posso-devo. Será que só porque conseguimos acessar uma infinidade de dados significa que devemos fazer isso? Ter um controle pessoal da situação é essencial para que esse querer saber cada vez mais não nos deixe doentes."

Uma dica, segundo o especialista, é limitar o tempo que gastamos para ir atrás de uma informação. "A maioria das pessoas fica tão envolvida no processo de buscar um dado que se perde e não consegue mais parar. Para eles, meia hora de pesquisa acaba se transformando em quatro horas, às vezes desgastantes", observa.

Na opinião de Jou El Jia, qualquer caminho para controlar a hiperexcitação cerebral é válido. "A ansiedade nos deixa com uma respiração mais curta. Então, precisamos aprender a inspirar e expirar profundamente para controlar esse sentimento. A meditação pode ajudar a diminuir a excitação do córtex cerebral. E a prática de atividade física também é fundamental para compensar a tendência a ficar horas e mais horas estático na frente do computador", diz.

GLOSSÁRIO MODERNO

• TECNOSTRESSE — Aprenda esse nome que está dando o que falar. É o estresse causado pela tecnologia ao nosso alcance no dia-a-dia, como e-mail, celular e TV. O acesso fácil e rápido a muita informação pode levar ao esgotamento físico e mental, já que nos mantém plugados o tempo inteiro.

• ANSIEDADE DE INFORMAÇÃO — Cunhada pelo arquiteto americano Saul Wurman, que escreveu dois livros sobre o tema, designa o estresse causado pela inabilidade para acessar ou entender a massa de informação.

• VÍCIO DE INTERNET — Comportamento compulsivo que leva a pessoa a ficar conectada horas a fio. Essa gente geralmente passa a ter problemas no trabalho, em família e com os amigos.

NADA DE ENLOUQUECER

• Tente descobrir de que forma a sede de saber gera estresse em sua vida. Assim você tem mais chances de administrar a situação.

• Limite o número de tarefas. Nem tudo precisa ser feito ao mesmo tempo e agora.

• Desligue-se. Será que você realmente precisa estar conectado o tempo todo e deixar o celular ligado até nos fins de semana?

• Exercite-se, ainda que seja por um breve momento, como num intervalo de trabalho. É um ótimo jeito de se desconectar.

• Tire férias da tecnologia. Quando decidir passar dias de puro ócio, esteja certo de que não vai transportar o local de trabalho para a praia, por exemplo.

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